Após 34 anos na banda, ele adianta seus próximos passos como músico e ator. E fala também de drogas, política e da filha, Manoela
Em Carrossel 2, Paulo vive o vilão Gonzales (Foto: Vanessa Rodrigues)
O anúncio, no dia 11, de que Paulo estava saindo do Titãs surpreendeu muita gente. Afinal, ele fazia parte da banda desde o início, há 34 anos, quando os Titãs não passavam de garotos em busca de uma formação musical sólida, para realizar o sonho de se tornar ícones do rock nacional.Para tristeza principalmente dos fãs, o que pesou para Paulo se despedir do grupo foi o fato de, a partir de 1994, ter se aventurado em uma carreira solo, lançando dois álbuns, e ainda ter descoberto o talento para as Artes Cênicas, fazendo trabalhos no cinema, na TV e mais recentemente no teatro.
Até porque, segundo ele, a amizade e o carinho pelos antigos parceiros de estrada continuam iguais. Na entrevista a seguir, o paulistano de 57 anos, que não durou muito como escoteiro por ser bagunceiro demais, admite estar longe do cigarro e das drogas há dez anos. Também se declara um pai babão e festeja a boa relação com o público infantil graças à participação nos dois filmes da turminha de Carrossel – nas duas semanas em cartaz, Carrossel 2: O Sumiço de Maria Joaquina já levou mais de 1 milhão de pessoas aos cinemas.
O anúncio, no dia 11, de que Paulo estava saindo do Titãs surpreendeu muita gente. Afinal, ele fazia parte da banda desde o início, há 34 anos, quando os Titãs não passavam de garotos em busca de uma formação musical sólida, para realizar o sonho de se tornar ícones do rock nacional.Para tristeza principalmente dos fãs, o que pesou para Paulo se despedir do grupo foi o fato de, a partir de 1994, ter se aventurado em uma carreira solo, lançando dois álbuns, e ainda ter descoberto o talento para as Artes Cênicas, fazendo trabalhos no cinema, na TV e mais recentemente no teatro.
Até porque, segundo ele, a amizade e o carinho pelos antigos parceiros de estrada continuam iguais. Na entrevista a seguir, o paulistano de 57 anos, que não durou muito como escoteiro por ser bagunceiro demais, admite estar longe do cigarro e das drogas há dez anos. Também se declara um pai babão e festeja a boa relação com o público infantil graças à participação nos dois filmes da turminha de Carrossel – nas duas semanas em cartaz, Carrossel 2: O Sumiço de Maria Joaquina já levou mais de 1 milhão de pessoas aos cinemas.
DESPEDIDA O público não esperava que você saísse dos Titãs. O que motivou essa decisão?
Entendi que estava na hora de alçar voo sozinho, levando comigo a escola que tive nos Titãs e que foi responsável pela minha formação como artista e pessoa. Deixo mais do que amigos na banda. Posso dizer que a nossa ligação chega a ser até mais do que familiar, uma vez que escolhemos trabalhar, conviver, apoiar e amar uns aos outros. Nós crescemos juntos, saímos direto do colégio para a estrada e aprendemos diante dos olhos do público a tocar, a compor e a nos apresentar. Descobrimos, enfim, uma personalidade que era nossa. E começamos nossa história quando todos ainda estavam solteiros. Depois, casamos e, hoje, alguns de nós já são avôs.
Quais dos Titãs já têm netos?
O Tony (Bellotto) e o Branco (Mello), que tem um neto da enteada dele. Quanto a mim, a Manoela, minha filha, está com 32 anos e tenho cobrado um bebê dela (risos). Estamos partindo para a terceira geração dessa grande família e é um privilégio podermos somar o legado dos 34 anos de banda, que são uma vida, com o afeto mútuo.
Mas, em alguns momentos, a convivência deve ter sido difícil, não é?
Lógico. Existiram momentos complicados, de adversidade, ligados às mais diversas razões, não apenas profissionais como também da vida pessoal de cada integrante. Só que não importava o que um ou outro estava enfrentando, sempre nos amparávamos. Afinal, é inevitável: uma carreira tão longa como a dos Titãs tem seus altos e baixos.
Já experimentamos de tudo: fomos criticados, tivemos trabalhos que não foram bem... E isso é muito bacana, porque trouxe a convicção de que o que fizemos é precioso e, além de tocar as pessoas, nos satisfez artisticamente.
PROJETOS Leva uma vida muito rock’n’roll?
Acho que o que tem de rock’n’roll na minha vida é justamente o fato de eu não parar de buscar desafios e de me jogar de cabeça neles. Quero fazer coisas diferentes, sair da zona de conforto, aprender mais e mais. Hoje, tenho me dedicado até ao teatro. Ou seja, estou tão longe do meu ponto de partida... Meu objetivo é reviver a sensação de que estou fazendo algo novo, não importa qual é o trabalho.
Tanto é que já gravou até samba.
Exatamente! Tive uma experiência fantástica com o Quinteto em Branco e Preto. Eles se separaram, mas, um dos componentes, o Magno Souza, é meu parceiro de composição. E nós acabamos de gravar um samba lindo. Eu sou brasileiro, amo a nossa música, ela está na minha veia. O Nheengatu, meu último álbum com os Titãs, já tinha vários ritmos brasileiros. Agora, estou preparando o meu terceiro trabalho solo e ele também vai ter essa pegada. Será um som moderno, em que vou apresentar experiências com nossos ritmos, fazendo projeções para o futuro do mercado.
Você foi confirmado como um dos jurados da versão nacional do reality show The X Factor. O que mais vem por aí?
Vou rodar no começo de 2017 um longa em que vou interpretar o Adoniran Barbosa. É um projeto lindo, no qual o cinema se une ao samba. O roteiro foi gerado a partir do curta Dá Licença de Contar, lançado neste ano. Em paralelo, estou fazendo a série policial A Lei para o canal Space, que tem estreia prevista para o primeiro semestre de 2017. Nesse seriado, levo tiro, sou torturado, tudo o que a gente gosta! É sangue nos olhos! (risos) Fora isso, estou retomando a peça Chet Baker, Apenas um Sopro, com a qual estreei no teatro, em janeiro. A princípio, estou fazendo uma temporada em Belo Horizonte.
COMPULSÃO Qual sua avaliação do momento atual da música?
Com os Titãs, experimentei a fase de ouro, o auge do disco, dos anos 80 e 90. Depois, vi a transição para o CD e, hoje, temos o digital. A música está investindo, em parte, na necessidade dos fãs de ter algo para guardar do artista, como acontece com os autógrafos e fotos. Daí, a volta do vinil. Por outro lado, já encontramos nossos ídolos no celular, e eu já evoluí para isso, porque amo música. Quer dizer, a música vai muito bem, obrigado. A indústria é que foi para o buraco, pois não soube se recolocar e ainda debate o que deve ser feito. A música continua sendo uma paixão das pessoas e, como a água, vai escorrendo e encontrando o seu caminho. E eu vou correndo atrás!
Vive conectado?
Sim. Para você ter ideia, eu cuidava das redes sociais dos Titãs. Nós somos do tempo da máquina a vapor, mas descobrimos que fãs estavam fazendo uma página muito legal e pedimos para que nos deixassem administrar o espaço, pois as pessoas achavam que aquele era o endereço oficial da banda. E comecei a fazer aquilo sozinho. Hoje, a página dos Titãs tem cerca de 2 milhões de seguidores, o que se deve ao público ter percebido que as publicações são feitas pelo grupo.
Você já declarou que a internet pode ser complicada para quem é compulsivo...
Eu sou compulsivo em tudo: música, cinema, teatro e todas as outras modalidades (risos). Mas, mesmo para quem não tem essa tendência, a internet passou a fazer parte da nossa vida de tal forma que, se demoramos 15 minutos para responder uma mensagem no WhatsApp, somos cobrados duramente por isso. Aos poucos, estamos percebendo que precisa haver mais vida entre uma postagem e outra, até para termos o que colocar nas redes sociais.
LIBERTAÇÃO Seu comportamento compulsivo deve ter pesado para que tivesse problemas com álcool e drogas.
Sem dúvida! Esse foi um momento bastante difícil da minha vida. Ainda bem que me dei conta disso, porque tem gente que não percebe que é dependente químico. Contei com o apoio de colegas, da família e da Rachel, minha mulher na época (ela faleceu em 2013, de câncer), para lutar contra esse problema. Estou limpo há dez anos e parei também de fumar. Vocês vão ter de me aturar por muito tempo, pois estou supersaudável! (risos)
Fez terapia?
Demais! E tomei medicação. Esse talvez seja o recado que posso dar: é preciso buscar toda a ajuda que for possível. A dependência química traz bastante sofrimento para a pessoa, para a família, para todo mundo. Ao contrário do que alguns pensam, ninguém tem uma recaída porque é malandro. É um problema sério! Para se livrar do vício, você deve jogar pesado contra ele. Hoje, é fantástico estar limpo, respirando bem e cantando cada vez melhor.
ATOR Como o caminho da interpretação surgiu para você?
Foi de uma forma natural, como uma evolução do intérprete que sou. Sempre gostei de fazer performances mais histriônicas, de provocar o público, de cantar olho no olho. Conto histórias pelas músicas e a presença de palco é da maior importância para mim. Não consigo separar uma coisa da outra. Acho que isso transbordou da música para as outras atividades que passei a exercer.
Relutou muito para se tornar ator?
Houve uma resistência no primeiro momento, quando, em 2001, o diretor Beto Brant me convidou para ser o protagonista do filme
O Invasor. Falei que ele estava doido, pois não tinha experiência como ator. Ele me convenceu a fazer o papel e acabou sendo um tremendo sucesso. Ganhei até prêmios. Confesso que, quando vi o longa pronto, comecei a encarar o cinema de uma maneira diferente.
Segue algum método de trabalho?
Vou muito pelo instinto e pelo aprendizado que tenho acumulado, com auxílio dos colegas, porque não possuo formação específica de ator. Mas não podemos esquecer que sou bicho de palco, essa experiência prévia da música também tem me ajudado bastante.
Cursou alguma faculdade?
Frequentei por um ano e meio o curso de Música da Universidade de São Paulo (USP). Fui aprovado fazendo um solo de flauta transversal, que meio que tirei de ouvido. Depois que entrei na faculdade, vi que as aulas eram totalmente voltadas para a música erudita. Eu queria muito aprender mais de harmonia etc., mas os Titãs começaram a dar certo e resolvi trancar minha matrícula para focar na banda.
CINEMA Os dois filmes do Carrossel o colocaram em contato com um público diferente: o infantil. Tem gostado dessa experiência?
Fazer os dois longas foi um desafio, porque o meu personagem, o Gonzales, precisava ser um vilão mais divertido, para movimentar a história e sensibilizar as crianças. No novo filme, o Gonzales sai da prisão e decide se vingar da professora Helena (Rosane Mulholland) e de seus alunos, raptando a Maria Joaquina (Larissa Manoela). Desta vez, pude depurar a essência do personagem e a parceria com o Oscar Filho, que é um humorista fantástico. Estou satisfeito com o resultado. Inclusive, as crianças têm me reconhecido na rua por causa do papel em Carrossel.
Há alguma história curiosa?
Fui abordado em um restaurante por um menino que queria um autógrafo. O pai dele estava do lado e fez questão de comentar: “Eu já mostrei para o meu filho até o disco dos Titãs, o Cabeça Dinossauro”. O garoto ficou olhando com uma cara, só faltou ele dizer: “O que isso tem a ver, pai? Ele é o Gonzales!” Situações assim são muito divertidas (risos).
POLÍTICA Sua filha tem se destacado como blogueira. O que acha de ela falar de feminismo?
Sou o maior pai babão de toda a história! (risos) A Manoela é superativista, feminista e politizada. Aprendo demais com ela, que me dá alguns puxões de orelha. Sou só mais um dos seguidores dela.
A Manoela tem uma hashtag que ficou famosa: #agoraequesaoelas, com a qual propõe que a voz das mulheres seja ouvida. Quero carregar esse toque feminino comigo. Por isso, o meu próximo show terá até uma equipe composta apenas por mulheres.
Em uma das últimas apresentações que fez com os Titãs, algumas pessoas da plateia gritaram “Fora, Dilma!” e você rebateu aquilo com um discurso sobre democracia. Qual a sua opinião sobre os rumos que o País está tomando?
Vejo o momento atual com muita preocupação. Todo mundo que foi às ruas pelo impeachment tinha um desejo claro e justificado contra a corrupção, que é um mal que nos persegue há 500 anos. Mas, na verdade, assistimos a um golpe de uma turma totalmente corrupta que tinha o objetivo de brecar as investigações antes que elas chegassem neles. É óbvio que eles não são os paladinos da Justiça.
FONTE: http://www.atribuna.com.br/noticias/noticias-detalhe/at-revista/paulo-miklos-conta-tudo-que-vai-fazer-agora-que-saiu-do-titas/?cHash=8c026e5755b86174eb519a5c7f21c6c6
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